Tiros e risos. Histórias sobre gorilas e cenouras. Vários pontos de virada. Personagens esquematizados. Idas e vindas, marchas e contramarchas, surpresas e clichês. Epa! Um roteiro bem amarrado. Opa! Muito papo abobrinha do tipo que se vê em filmes de Quentin Tarantino, mas sem Tarantino, ou seja, sem a crueza radical e cáustica do diretor de Cães de Aluguel. Sabem como é, filme de Hollywood, happy end, um pote de ouro no fim do arco-íris. Hora de voltar para casa com o fígado desopilado e a mente mais fresca
O Filme é um blockbuster maneiro, bom para curtir numa tarde de sábado, sem exigir muito da atenção crítica do espectador ou de sua sensibilidade artística. Harold Soyinka é um nigeriano nos EUA que vê, de uma hora para outra, tudo que ele acredita ser sua vida e suas conquistas se desmanchar bem diante de seus olhos. Seu grande amigo e patrão o trata como um bem descartável. Lida com ele de forma descortês e, pra falar no popular, de um modo bem sacana.
Richaard Rusk, um executivo cara-de-pau, é o seu empregador e camarada, tem planos de fazer uma fusão de sua empresa com outra grande do mercado. E adivinhem quem vai dançar? O mesmo que desde sempre foi apenas um inocente conveniente, bobo o suficiente para não perceber as tramoias que estavam orquestradas às suas costas.
O Laboratório de Rusk fica no México. É neste país que ocorre boa parte da trama, com direito a traficantes violentos e estereotipados, um chefão do crime cruel e bem humorado para si mesmo, nunca para os que ele mata ou tortura. Esta figura escobariana se auto-denomina o Pantera Negra e usa a imagem desse animal impressa em seus cartões de visita, ou melhor, de intimação.
harold é sequestrado. Só que não. Mas depois é de verdade. Depois não é mais. Sua mulher o trai, sua posição no mundo não se sustenta, seu rap é o maior vacilo. O nosso herói é salvo por um ex-mercenário dedicado a causas humanitárias. Só que não. Quer dizer, era para ser verdade, mas depois não é mais. Porém a simpatia e o algo mais desse cidadão oprimido do terceiro mundo abala os corações mais enrijecidos. Ele tem muito azar, mas tem muita sorte. Gargalhadas na platéia. E, como no futebol, o espectador torce pelo time mais fraco.

Para o famoso romancista E. M. Forster, "A vida é fácil para o registro, mas desconcertante para a prática." O cinema de ação tem sido useiro e vezeiro em demonstrar isso. O título do filme é "Gringo", mas bem que poderia ter uma chamada que dissesse algo do tipo: "Como o bobo e subserviente Harold Soyinka se transforma no ator de seu próprio destino e termina a história curtindo a vida sendo o dono de um simpático bar à beira-mar." Embora não seja Wakanda, esse nigeriano é o verdadeiro Pantera Negra, aquele que deu o pulo do gato.
O filme é diversão garantida! Quer dizer, para quem se garante nesse tipo de diversão.Alinhava um fiapo de ideia sobre a sociedade e a estrutura de subjetividade. Tudo muito leve e palatável. Um esboço de sociologia cinematográfica contemporânea bem ao gosto da mentalidade do cinema comercial com supostas pretensões a alguma reflexão. Na última cena que vemos na tela, Harry olha para a câmera, portanto, para a plateia, não pisca o olho, mas é como se o tivesse feito.
"Gringo - Vivo ou Morto"
Gênero: Drama cômico/filme policial - 2018 - 1h 51 min
Lançamento: 03 de maio de 2018
Direção: Nash Edgerton
Com: David Oyelowo (Harold), Joel Edgerton (Richard Rusk), Charlize Theron (Elaine). Amanda Seyfried (Sunny), Thandie Newton (Bonnie), Sharito Copley (Mitch), Harry Treadaway (Miles), Yul Vasquez (Angel).
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